Quase mamaço e quase cinema: notas para um debate necessário

Post Original de Carolina Pombo, do Blog What Mommy Needs

Esta semana começou super bem! Um domingo que começou chuvoso nos presenteou com um belo arcoíris e um encontro gostoso com mamães e papais que se preparavam para o Mamaço Carioca

Chegamos apreensivos, cheios de muffins de mel e barrinhas de cereais orgânicas, muffins salgados de azeitonas e ervas, e sucos orgânicos de cenoura com laranja e limão galego. O sol foi se aproximando e resolvemos nos instalar no local combinado incialmente para o mamaço, ao lado do chafariz, no Parque Lage.
Estendemos nossa toalha impermeável e ficamos aguardando as pessoas… elas foram chegando aos poucos, de mansinho. Umas já sabiam que o mamaço carioca tinha sido adiado, outras não. Mas, todas pareciam adorar o lanchinho oferecido. Tiramos várias fotos, distribuímos os kits que tinham sido preparados para as palestrantes e profissionais que dariam o apoio à manifestação, e até fizemos um sorteio de uma fralda ecológica WMN! Queríamos prestigiar as pessoas que, mesmo no frio, e mesmo sabendo do adiamento, ficaram lá conosco firmes e fortes.
Cristiane Pitzer foi a sorteada! Mas a família What Mommy Needs é que agradece a tod@s pelo apoio e participação! Sem vocês, nossas comidinhas teriam estragado… ou teriam sido doadas… mas foi muito bacana ver que nosso trabalho não foi em vão! E aproveitamos para convocar aos participantes para o dia 12 de junho, quando acontecerá de fato o Mamaço Carioca.
Mas, a semana não parou por aí!
Aqui em casa tivemos outra novidade.
Ontem, levei Laura ao cinema, pela primeira vez! Era dia de escola, mas resolvi mudar os planos. Desde que nos mudamos de apartamento e de bairro, Laura está meio tristinha, meio enjoada, briguenta. Pra piorar teve duas quedas na escola na mesma semana e ficou bem machucadinha. Então, começou a dizer, de repente, que não queria ir pra escola. Já há alguns dias que tenho escutado ela dizer isso. Mas, com tanto trabalho, até no fim de semana, com a inauguração da loja às portas, o apoio ao mamaço e meu envolvimento num curso de especialização da Fiocruz, eu não podia me dar o “luxo” de passar a tarde toda com ela, despreocupadamente.
Quer dizer, se eu não podia eu não sei, só sei que fiz. Saindo para levá-la à escola, de uniforme, com a mochila e tudo, ouvindo-a dizer novamente “não quer escola”, ouvi meu coração e chutei o balde! Perguntei o que ela queria fazer e ela respondeu “popoca”, apontando pra uma barraquinha de churros. Entendi o pedido e fui no shopping procurar a pipoca, que aqui só é permitida uma vez por semana! Ela tinha almoçado bem, e eu achei que nem ia querer comer muita. Mas, se fartou! Depois voltamos pra casa, e enquanto eu trabalhava com o computador, ela fazia a maior bagunça brincando de “trabaiar” do meu lado. Eu expliquei pra ela o que é um cinema, disse que é escuro, com uma tv bem grandona, que a gente tem que ficar quietinha e perguntei se ela gostaria de ir mais tarde. Não tinha nenhum filme infantil passando aqui no shopping, mas tinha o documentário Babies.
É um documentário lindo, que não tem narrador, nem legendas. Apenas constrói uma narrativa de imagens, nos levando a entrar nas casas e hábitos de quatro famílias totalmente diferentes ao redor do mundo, na criação de seus bebês. Laura simplesmente adorou! Ficou uma hora inteirinha, ininterrupta, assistindo compenetrada os quatro bebês (uma americana, uma da Namíbia, um japonês e um da Mongólia). Fazia observações como “olha o gatinho!”, “o bebê tá chorando”, baixinho pra não incomodar as poucas pessoas que nos acompanhavam numa segunda feira a tarde no cinema.
Ter visto este filme, acompanhada de minha filha de dois anos, logo depois de participar do debate acerca da amamentação em público, foi muito bom. Nele vi algumas diferenças e semelhanças entre mães tão distantes e desconhecidas. Oferecer o leite é sempre uma etapa marcante. Cada uma faz de seu jeito próprio e de acordo com os hábitos de sua cultura. É preciso dizer que a diferença marcante entre a mãe americana e a mãe de uma tribo da Namíbia é a centralidade da amamentação na relação com a criança, não só porque no segundo caso a mulher dedica-se quase exclusivamente para o bebê, mas porque esse é um dos poucos alimentos disponíveis para ele. A mãe americana extrái o leite e a bebê toma mamadeira. Ela tenta estimulá-la com diversas coisas, brinquedos, banhos, sons, enquanto a bebê da Namíbia mama ao seio da mãe e distrái-se com moscas, pedras, e o irmão. O que me fez pensar em quanto também somos condicionados pelos recursos que possuímos. Muitas vezes eles são fundamentais para garantir uma amamentação sem traumas, outras, eles são ruídos, interferências. Se algumas culturas a falta de recursos materiais estimula e valoriza a amamentação, em outras, esse problema é crucial para o desmame precoce.
Uma manifestação como o Mamaço Nacional pode ser então o primeiro passo para uma transformação mais ampla em nosso meio social, se conseguirmos olhar para além de nossas vidas. É preciso lembrar que amamentar por livre demanda não é sempre uma escolha viável. Mas, mostrar ao mundo que queremos amamentar, que temos esse recurso natural e que ele é bem vindo, é o primeiro passo na direção de convocar a sociedade para um debate maior sobre as condições ambientais em que, nós ocidentais, em especial as ocidentais de países em desenvolvimento ou não desenvolvidos, tentamos exercer a maternidade. É tempo de mostrar à sociedade qual é a nossa prioridade.
Mostrar que a amamentação deve ser respeitada como um ícone da sociedade que queremos reproduzir: uma sociedade humana que se relaciona bem com a natureza, mesmo recorrendo muitas vezes à tecnologia de ponta.
Para a grande maioria das brasileiras só é possível falar em amamentação por livre demanda quando família, trabalho e esfera pública favorecem tal prática. Estamos enredadas em muitas demandas, em tantas necessidades. Precisamos de uma sociedade que afirme em suas leis o direito da mulher escolher sobre a maternidade, e ter recursos para escolher o melhor caminho.
Eu fico feliz que, mesmo em meio a tanto trabalho, eu posso, mesmo com sacrifício, dedicar uma tarde de segunda feira às necessidades emocionais de minha filha de dois anos de idade, e num domingo de manhã, mesmo com frio, apoiar um encontro de pessoas em defesa da amamentação livre!

Sobre Maribel Barreto

Atriz, Contadora de Histórias, Artesã de Wraps Slings, Brinquedos e Mãe de Francisco Bento de 3 anos, e Catarina Maria 8 meses. Casada com Mauricio José. Saiba sobre mim no Blog www.umblogdemae.blogspot.com

Uma resposta »

  1. Adorei o evento!
    Vcs não vão postar uma fotografia com o momento do mamaço coletivo, na escadaria?
    Não consegui tirar foto…

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